A relação entre o conhecimento e o bem, segundo Sócrates
Sócrates nos é apresentado por seus discípulos Platão e Xenofonte em vários diálogos, como um espírito crítico e questionador, que fez do amor pela sabedoria o grande objetivo da sua vida. Para ele, a busca pelo conhecimento não se dá de maneira distinta da procura pelo bem, pois aquele que conhece a verdade é virtuoso. Por isso, Sócrates é apontado como o primeiro a direcionar a reflexão filosófica para o nomos, dando à sua investigação teórica uma finalidade ética.Os questionamentos éticos e políticos apresentados pela filosofia socrática
Ciente de que a verdade que buscava não estava no mundo e, sim, dentro de si, Sócrates perambulava pelas ruas de Atenas, questionando valores e preceitos estabelecidos.Ao indagar os atenienses sobre o conceito que tinham sobre a virtude e o bem, por exemplo, utilizava-se da ironia para confundi-los e provar que não tinham respostas para essas questões: as pessoas acreditavam discernir ações boas de ações más, porém, não costumavam parar para pensar no que seria o bem em si.
Ao questionar as pessoas sobre o significado do bem em si, Sócrates motivava-as a desconstruírem as opiniões formadas e repassadas pela moral vigente. Não indagava se o que faziam era certo ou errado: problematizava o próprio conceito de certo ou errado, questionando opiniões e explorando a construção de conceitos mais gerais e universais sobre a essência e o bem, explorando a consciência.
Por isso, podemos afirmar que o interesse filosófico, em Sócrates, volta-se para ao mundo da prática - e tem finalidade ética.
Sócrates busca a sabedoria com vistas ao aprimoramento moral. O conhecimento é visto como um bem.
Diálogo entre Sócrates e Eutidemo, segundo Xenofonte em Ditos e feitos memoráveis de Sócrates
— Já observaste uma coisa, Eutidemo?
— Quê?
— Que, pareça embora poder conduzir-nos exclusivamente ao agradável, de tanto é incapaz a intemperança, ao passo que a temperança nos proporciona os mais vivos prazeres.
— Como assim?
— Porque a intemperança, não nos permitindo suportar a fome, a sede, os desejos amorosos, a insônia, necessidades que só elas nos fazem experimentar, deleite em comer, beber, amar, repousar, dormir e que com a espera e a privação não fazem senão aumentar o prazer, a intemperança, digo, impede-nos de sentir verdadeira doçura no satisfazer estes apetites necessários e contínuos. A temperança, ao contrário, única capaz de fazer-nos suportar as privações, é também a única que nos permite gozar até pela memória dos prazeres de que falei.
— Nada do que dizes admite duvidas.
— Demais, aprender a conhecer o belo e o bem, a governar o próprio corpo, a bem dirigir sua casa, a ser útil aos amigos e à pátria e a vencer os inimigos, todas qualidades que não somente são úteis como proporcionam os maiores prazeres: tais as vantagens práticas que colhem os homens temperantes e de que os intemperantes são excluídos. De feito, quem menos digno delas que aquele que, consagrado aos prazeres fáceis, nenhuns sacrifícios fez à virtude?
— Parece-me, Sócrates, considerares o homem dominado por prazeres dos sentidos incapaz de qualquer virtude.
— Qual a diferença, Eutidemo, entre o homem intemperante e a besta mais estúpida? Em que difere dos brutos quem jamais toma o bem por norte e só vive para o prazer? Só os temperantes podem examinar o que há de melhor em todas as coisas, distribuí-las por gênero na prática e em teoria, joeirar o bem e refugar o mal.
— Quê?
— Que, pareça embora poder conduzir-nos exclusivamente ao agradável, de tanto é incapaz a intemperança, ao passo que a temperança nos proporciona os mais vivos prazeres.
— Como assim?
— Porque a intemperança, não nos permitindo suportar a fome, a sede, os desejos amorosos, a insônia, necessidades que só elas nos fazem experimentar, deleite em comer, beber, amar, repousar, dormir e que com a espera e a privação não fazem senão aumentar o prazer, a intemperança, digo, impede-nos de sentir verdadeira doçura no satisfazer estes apetites necessários e contínuos. A temperança, ao contrário, única capaz de fazer-nos suportar as privações, é também a única que nos permite gozar até pela memória dos prazeres de que falei.
— Nada do que dizes admite duvidas.
— Demais, aprender a conhecer o belo e o bem, a governar o próprio corpo, a bem dirigir sua casa, a ser útil aos amigos e à pátria e a vencer os inimigos, todas qualidades que não somente são úteis como proporcionam os maiores prazeres: tais as vantagens práticas que colhem os homens temperantes e de que os intemperantes são excluídos. De feito, quem menos digno delas que aquele que, consagrado aos prazeres fáceis, nenhuns sacrifícios fez à virtude?
— Parece-me, Sócrates, considerares o homem dominado por prazeres dos sentidos incapaz de qualquer virtude.
— Qual a diferença, Eutidemo, entre o homem intemperante e a besta mais estúpida? Em que difere dos brutos quem jamais toma o bem por norte e só vive para o prazer? Só os temperantes podem examinar o que há de melhor em todas as coisas, distribuí-las por gênero na prática e em teoria, joeirar o bem e refugar o mal.
Responda:
- Segundo o diálogo citado por Xenofonte, com quais atitudes Sócrates relaciona a virtude?
- Qual a condição necessária para o exercício da virtude? Como se relacionam, no ensinamento socrático, moderação e imoderação?